28.9.15
O contrato dos símbolos
12.4.15
Memória*
22.1.15
Inverno em Veneza
3.1.15
Pasárgada
20.4.14
Reconhecimento
2.3.14
Pop Music
5.4.13
Retrocesso
18.2.13
Travessia
15.11.12
Sinfônico
20.6.12
Sobre pequenas coisas e nada mais
28.11.11
Noites de incêndio
11.10.11
Algo para o fim de semana
22.8.11
A melhor das noites
27.7.11
Um par de anos e mais
28.6.11
Espanto
23.6.11
Assim
10.6.11
Mis baldosas amarillas
30.4.11
Casamento*
18.4.11
Autocrítica
18.3.11
Crianças
2.2.11
Às vezes tudo o que gostaria é saber a hora exata de frear. Mas, acostumado que sou às intensidades da vida, sempre me vejo apegado a pisar fundo, como se a oportunidade fosse única, independente de o momento ser oportuno ou de a situação ser propícia. Assim, assumo riscos que não deveria e faço escolhas que poderiam ser perfeitamente evitadas se houvesse um mínimo de prudência. Tudo em velocidade estonteante. O que não seria mal se o mundo rodasse na mesma passada e as outras pessoas me acompanhassem nisso. Porém, é claro, não é o que ocorre. Por isso essa sensação de descompasso não sai de mim, e o resultado tende ao nada. A partir daí, o que resta é silêncio, angústia ou sei lá o quê. E tudo por não dar dois passos para trás antes de um para frente, como reza a cartilha da pessoa sensata. Ok, eu sei que muitos dirão que a vida com desconfiança não tem graça, que tentar é necessário e tudo mais. Só que eu juro – juro mesmo – que tudo o que eu queria era ter alguma cautela ao viver.
Ou ao menos ter algum freio de mão para acionar em caso de emergência emocional.
3.1.11
O maior problema das promessas feitas a dois é que, muitas vezes, aquele que propõe é quem, de fato, acredita na sua realização. À outra parte cabe ser conivente, assentindo sem pensar direito na responsabilidade da aprovação. E tudo está bem até que se coloca no caminho o momento em que é preciso decidir se vai se fazer de fato aquilo ou não. A partir daí, descobre-se que as visões são diferentes, que os momentos são incompatíveis, que as expectativas são outras. Enfrenta-se a dor e o ônus de se desfazer os castelos de areia montados ingenuamente, enquanto se sente os grãos de um sonho que nunca vai se concretizar escorrendo de forma cruel pelas mãos. As palavras ditas não valem registro, as escritas já foram apagadas. E aquele que propôs tudo descobre que está sozinho, e que talvez sempre tenha estado, enquanto a outra parte, que um dia aparentou estar ali, já encaminha os planos de um futuro qualquer distante dali.
É assim que termina, com um “esquece que eu existo” ou “você vai viver melhor sem mim”. Sem planos, sem tempo, sem volta.
Podia não ser assim. Podia ser apenas teoria.
Mas há sempre alguém para colocar em prática.
Quem eu vou ser depois de você?
1.12.10
Queria que a mesma beleza que você vê aqui, nestas soltas palavras, permeasse o mundo que às vezes me cerca. De repente assim a tal melancolia que descolore a realidade se despedisse lentamente, abrindo espaço para a volta daquelas cores de um dia que, perdido na lembrança, foi feliz. Porém, naquilo que você enxerga imagens, eu só sinto sons, e ainda não acostumei meus olhos tão bem à paisagem quanto os meus ouvidos a essa melodia triste que vem da solidão. Talvez eu precise de uma nova música. Talvez o filme que passa aqui já não tenha mais graça. Talvez meus sentidos não saibam tão bem o que é melhor para mim. Talvez eu sinta o que você não pode falar.
Talvez por isso eu ainda possa aprender.
12.6.10
9.4.10
Antítese de uma relação
Quando a vontade de escrever esbarra na falta de habilidade com as palavras.
Quando a necessidade de botar o que se sente para fora trava-se numa lágrima contida.
Quando a saudade começa a se transformar em um se acostumar.
Quando o querer passa a ser distante.
Quando o gostar ameça se perder.
Quando parece não mais importar.
É aí que tenho mais vontade de dizer para você ficar aqui.
(Porque, no fundo, sei que esse não é o roteiro que quero seguir.)
22.3.10
2.3.10
Desde que comecei a escrever, percebi logo que não havia muito mistério em quando produzir: basta um dia frio ou um coração partido para que as palavras brotem. Por isso, nunca tive dúvidas quanto a estar na cidade errada. Felizmente, as desilusões nunca me faltaram – os textos não me deixam mentir.
Mas hoje fez frio no Rio de Janeiro. E o coração está em paz. Então as palavras são poucas.
E eu até que prefiro assim.
23.12.09
The end has no end
E então 2009 está chegando ao fim. Esse tal ano que, por motivos tão diversos, acabou se tornando único. Afinal, foi nele que cheguei aos 30, que comecei o mestrado, que gravei o novo disco do Cabaret, que troquei de carro, que terminei minha licenciatura, que abri uma cafeteria, que vi o Flamengo ser hexacampeão brasileiro. Difícil até imaginar como tanta coisa aconteceu em apenas 365 dias. Mas a verdade é que 2009 vai entrar para a minha história como um ano de realizações, ou pelo menos como o início delas. Chega a ser simbólico que tudo tenha começado com uma obra, lá em janeiro, e que se encerre agora, em dezembro, com a calmaria da estabilidade. Foi bom ver fevereiro passar preguiçoso, ter no show do Radiohead a razão para março chegar logo ao fim, passar a primeira metade de abril organizando a inauguração do café e a segunda aprendendo como aquilo lá funciona, entrar em estúdio em maio para dar vida a “A paixão segundo Cabaret”, encarar as primeiras avaliações do mestrado em junho e perder as férias de julho para deixar tudo pronto para um segundo semestre alucinante, não sem antes aplaudir a formatura da amiga mais importante. Talvez por isso agosto tenha corrido tanto, mal dando tempo para comemorar com meus pais os seus respectivos aniversários, e de setembro quase nada tenha ficado, a não ser o ressurgimento da pessoa que veria, em outubro, todos os filmes do Festival do Rio comigo, mexendo com convicções supostamente inabaláveis, e que daria mais um sentido para o 11 de outubro na minha vida. Quando novembro se desenrolou, havia, então, um namoro aqui. Enquanto isso, o Flamengo crescia no campeonato nacional, e foi em dezembro que o meu aniversário de 30 anos ganhou o capricho de coincidir com o dia do hexa. Histórico. Viagens, título, shows, encontros. Que ano. E então 2009 está chegando ao fim. Se existe algo a pedir para 2010, que seja ele uma continuidade. Porque, pela primeira vez, tudo está no lugar certo.
14.6.09
Eu queria ter feito algumas músicas. Sempre penso nisso, assim como todo mundo. A diferença é que eu tenho a minha lista. São muitas, é verdade, mas me peguei recordando algumas recentemente. E resolvi escrever um pouco sobre isso. É bobo, eu sei, mas me pareceu necessário. Uma forma de expelir sentimentos guardados, talvez. Não sei. A verdade é que aqui estão. Pouco me importa se faz sentido ou não.
Queria ter feito “My love”, do Paul McCartney, como a minha maior declaração de amor. Queria ter feito “My funny valentine”, de Richard Rodgers e Lorenz Hart , para ter trazido à luz a música mais bonita de todos os tempos e dar para o Chet Baker cantar. Queria ter feito “At my most beautiful”, do R.E.M., para registrar o valor dos pequenos gestos daquela relação que vivi. Queria ter feito “Live forever”, do Oasis, para nos eternizar. Queria ter feito “God only knows”, dos Beach Boys, em um momento de consciência da plenitude devido à existência dela. Queria ter feito “Lost cause”, do Beck, para poder dar forma aos meus mais sinceros sentimentos quando ajo errado com alguém. Queria ter feito “Catch my disease”, do Ben Lee, para outros cantarem bem alto toda a alegria que ela traduz. Queria ter feito “Either way”, do Wilco, para alguém dormir ouvindo, como faço todo dia. Queria ter feito “Amsterdam”, do Guster, para que uma pessoa mandasse alguns versos para outra e ela nunca mais esquecesse. Queria ter feito “Time of the season”, dos Zombies, para simbolizar toda uma época – da minha vida ou do mundo. Queria ter feito “No surprises”, do Radiohead, para levar alguém às lágrimas sempre que o dedilhado de guitarra começasse. Queria ter feito “There was a light that never goes out”, dos Smiths, como um pedido muito especial. Queria ter feito “A design for life”, dos Manic Street Preachers, para ser meu um refrão tão bom. Queria ter feito “Heroes”, do David Bowie, para dizer o que um casal pode ser de tantas formas diferentes e, mesmo assim, tão precisas. Queria ter feito “Coffe & TV”, do Blur, porque fala de mim como ninguém jamais foi capaz. Queria ter feito “Everlong”, do Foo Fighters, para dar um recado do quanto estava disposto a esperar. Queria ter feito “Yellow”, do Coldplay, para me sentir arrepiado toda vez que ouvisse uma multidão berrando as primeiras frases em um show. Queria ter feito “Candy”, do Iggy Pop, para um casal cantar feliz em um karaokê no bairro da Liberdade. Queria ter feito “Happy together”, dos Turtles, porque uma música com esse título caberia bem na história de nós dois. Queria ter feito “Bohemian like you”, dos Dandy Warhols, para que duas pessoas, perfeitas uma para outra, dançassem como se não houvesse amanhã. Queria ter feito “Sound of silence”, de Simon & Garfunkel, para trazer lembranças boas de alguém que já se foi. Queria ter feito “Always look on the bright side of life”, do Monty Phyton, porque a vida sem humor não faz sentido. Queria ter feito “In my life”, dos Beatles, e a ter como epitáfio da minha existência. Mas, acima de tudo, eu queria ter feito a canção que toca dentro de mim sempre que penso nela. Uma canção cuja autoria é desconhecida e o intérprete, um qualquer. Uma canção de amor. Simples, bonita, singela. Que talvez nunca venha a tomar forma, conhecer o mundo. Ainda que perfeita para os momentos que iríamos (iremos?) viver.
19.1.09
Acordei acreditando que era possível mudar a mim mesmo. Refazer passos, rever conceitos, reaprender a vida. Por isso, calcei os chinelos e fui encontrar o mundo.
Pena que ele passou uma rasteira e, quando vi, minha cara marcada no chão lembrava o quanto estou preso ao que sempre fui.
14.7.08
A obsessão do controle sempre me perseguiu. De início, foi a dos pensamentos a que me tomou, ao julgar que todos poderiam ser ordenados e conscientes. Depois, acreditei na dos sentimentos, achando que era capaz de escolher por quem e o que eu iria sentir. Mais tarde, dei vazão à dos meus atos, vislumbrando a possibilidade de abdicar dos impulsos e só agir quando pensado. Hoje, carrego comigo a do tempo, a que mais me angustia e me revela incapaz. A pior de todas. A que atesta nossa limitação, que nos faz meros reféns, que impede de nos mover. A incontrolável. A mais inútil. Porque é no fracasso dela que me vejo sujeito oprimido, cerceado por obrigações-de-dia-e-noite, errante na velocidade intensa do tempo-infinito. Todo controle é insuficiente. Sem ela eu me perco, sou vítima, pobre coitado da rotação mundana. E às vezes tudo que eu desejo é parar e dizer que não dá para seguir adiante. Mas não se é possível mudar o que se escreve com convicção. É quando o estar ocupado vira a regra, e nada mais faz parte das vontades que realizam sonhos. Me-ca-ni-za-do. Es-que-ma-ti-za-do. Simplesmente automatizado. Ou qualquer coisa que o valha para indicar que não somos donos do que queremos. A obsessão do controle. A mais inútil. O meu vício.
22.1.08
Corre daí, não é seguro. Você sabe que não deve se arriscar assim. Voltar não era preciso. Você sempre seguiu adiante, sempre soube não olhar para trás. Não precisa tentar de novo. Não foi você mesmo que disse que tudo que chegava ao fim não tinha como recomeçar? Como acreditar em algo que nem você é capaz de colocar em prática? É melhor fugir. Esquece tudo, abandona isso que bate aí dentro e caminha além. Lembra como seus passos eram firmes quando você parecia conhecer a direção? Não desvia do trajeto agora. De nada vale voltar, acredite. Seria ficar sem rumo mais uma vez. E demorou para que você achasse um. Ou será que já esqueceu a sensação de dirigir na chuva, com pouca visibilidade e quase nenhum contato? Não, você não quer isso de novo. Corre daí, não é seguro. Você sabe que não deve se arriscar assim. Não tem razão para se envolver nisso agora. A gente não costuma repetir os erros. É para isso que dizemos ter superado. Mesmo que saibamos que não é a verdade. Enganar-se é preciso. Não foi você mesmo que disse que a mentira é o fim de toda verdade? É melhor mentir. E sonhar que a terra áspera é céu de brigadeiro. É quando fica fácil caminhar, com a cabeça nas nuvens, trocando os pés pelas mãos. Porque de nada vale ficar aí, sem jeito, morrendo de medo de tentar. O que você quer nunca é o que você tem, e menos ainda o que você deixou de ter. É sempre o que falta. E sempre vai faltar. Por isso não é prudente continuar voltando. Não é bom recomeçar. Vai acabar descobrindo que não dá para seguir em frente. De novo. Então é melhor fugir. E esquecer essa história de que não há o seu lugar. Corre daí, não é seguro. Você já sabe onde isso vai dar.
18.11.07
Despertador que toca. Música que soa. Ar que respira. Pensamento que viaja.
Rota incerta. Estrada deserta. Maré alta. Lua minguante.
Definições. Abstrações. Sentidos. Palavras.
Querer dizer o que não deve ser dito é a tarefa dos tolos que se propõem a escrever para aplacar seus próprios medos. Dizem por dizer, como se assim tudo se esgotasse e não houvesse mais dúvida que não fosse sanada em letras conjuntas. Eu não aguentava mais ser assim. Resolvi que escreveria sobre o nada, que diria apenas aquilo que em mim não cabia, mas não por sentir demais, e sim por não me ver ali. Soltaria palavras ao vento, deixando que cada leitor as pegasse e fizesse com elas o que julgasse mais adequado. Organizasse à sua maneira, catando pedaços no chão e escrevendo no céu. Sei lá. Só não queria que coubesse mais a mim dizer o que não deve ser dito. Eu não era mais um tolo.
Então sentei. E já se iam meses sem uma palavra sequer saindo das minhas mãos. Mesmo assim, escrevi. As primeiras vieram como óbvias. As segundas, como fortes. Não quis imaginar as últimas. Iria mais uma vez virar refém do peso que delas brotam se continuasse naquele caminho. Rasguei a folha e mudei o rumo. Foi então que vi que não seriam palavras à toa, pois o que vinha naturalmente era diferente daquilo que eu queria dizer agora. Sairiam apenas os clichês, os lugares-comuns, os ditos que todo mundo diz. E eu sabia que não queria mais ser assim. Porém, também parecia que não sabia o que eu deveria ser. E comecei a me sentir tolo.
"São tolices / que penso sobre você"
Foi então que vieram imagens. Muitas. Desconexas, complementares, instigantes. E me fui a desenhar, livre, sem o medo que as letras trazem em suas formas. Fiz traços, traços, traços. Nenhuma palavra. Eu, que sempre delas me fiz parte, dizia agora mais de mim por aquilo que nada dizia. Via cada reta me deixando torto. Via cada volta me deixando no início. Eu não era mais tolo. Era vivo.
Pela primeira vez, os brancos não incomodavam. As linhas não precisavam ser paralelas. Os limites não existiam. Tingi-me de fácil, de claro, de objetivo. Como era simples redefinir-me assim. Perdiam-se as angústias, os entornos, os quase-caminhos. Mesmo que apenas para mim. Disse o que não devia ser dito da maneira que não devia ser feita. Os tolos seriam os outros. E eu seria o mais vivo.
Aprendendo a dizer o que digo sem dizer o que sinto.
14.5.07
Quase acreditei que seria possível voar ao abrir os braços depois que vi que o céu azul claro era vermelho porque o sol estava indo embora levando consigo a loucura que é dos homens que sentem o que não devem sentir mas vêem o que só os loucos podem enxergar.
E de repente pedi aos céus que me dessem a luz que fizesse sentir tudo aquilo que as nuvens já sabem explicar para que a volta fosse calmaria enquanto a força que escapava das mãos subia para a cabeça sem que eu soubesse direito como caminhar num chão que não tem o seu lugar.
Descicrescendocomopedraquerolaemumriodesonsmurmuranteseventosquesaemdoquarto
Para cair com os pés no chão e caminhar com a cabeça no céu.
Para tocar com as mãos no espaço e observar com os olhos na alma.
Saindo do espaço-céu de um momento de queda subindo para um lugar-terra de uma esperança perdida.
Seguindo sozinho pelo buraco mais fundo da alma de qualquer sonhador.
3.9.06
Ele parou por um instante e deu mais um gole no chá. Era calor, a cidade era o Rio de Janeiro, mas mesmo assim o dia parecia pedir uma bebida quente e sofisticada. Do outro lado, estava ela. Quieta, reativa. Provavelmente tomando uma coca-cola ou qualquer outro líquido de cor escura e bolhas (“fazem cócegas no céu da boca, você sabia?”) e pensando em como ele era imbecil de, depois de tudo, ainda tentar falar mais do que duas palavras com ela.
Ainda assim insistia.
O chá tinha o mesmo gosto de sempre. Afinal, por que raios havia sabores? No fundo, todos pareciam água suja e tinham gosto de uma erva qualquer. Sofisticado porra nenhuma, é bebida para aquelas velhas que passam o dia filosofando sobre como era bom quando elas eram jovens, como se elas lembrassem como era bom quando elas eram jovens. Lembram porra nenhuma. Coca-cola porra nenhuma. Enfim.
Ainda assim insistia.
Ela já tinha ido embora, mas ele continuava a beber o chá. Frio, escuro, enfiado na cadeira como se tivesse sido plantado e germinado ali. Ela devia estar pensando em como ele era imbecil de, depois de tudo, ainda tentar falar mais do que duas palavras com ela. Mas o dedos dele estavam trêmulos e ele só sabia perguntar se tudo estava bem . E ela virando as costas como se nada ouvisse (“eu só ouço o que quero, você sabia?”) e caminhando lentamente para o fim do corredor.
Ainda assim insistia.
Essa merda de cadeira dói a bunda. E as costas também. Porra, como eu odeio essa cadeira de merda. E esse chá de merda, que já tá frio. Vai embora porra nenhuma, você tem que me ouvir. Você não é uma daquelas velhas surdas que passam o dia vagabundeando pelas calçadas da rua, fechando o caminho de quem tá com pressa. E eu tenho pressa, e elas tão sempre no meu caminho. Como você. Porra nenhuma. E você, tá bem?
Ainda assim insistia.
Bem porra nenhuma.
20.1.06
Queria saber medir o tempo com algo que não fossem horas minutos segundos. Talvez medir com a intensidade dos olhares perdidos ou das lágrimas em vão. Ou, quem sabe medir, com as esperanças depositadas em amores infrutíferos ou com as palavras ditas por calor da ocasião. De repente medir com as músicas dedicadas em silêncio ou com as cenas revistas em comunhão. Ou simplesmente com os passos que nos afastam-aproximam de qualquer objetivo.
Mas não. Só aprendi a lógica das coisas simples, do mundo simples, da vida banal. E, como todos, apenas me sinto capaz de perceber aquilo que passa, nunca o que repassa ou o que permanece aqui. É a percepção mundana de quem cresce acompanhando em folhas de calendário a sua evolução, e não percebe que o sentido não está ali. É um conhecimento que não vem das marcas e dos controles, uma noção que se desapega quando percebemos o quanto deixamos de viver por querermos viver mais. São as amarras de algo que já nasce para ser efêmero, e que nos deixa acostumados a ver só ir e sorrir, sem entender que, quando não há relógio que marque o tempo de dentro, não há vida que explique o tempo lá fora.
3.4.05
Tentar escrever sob a pressão do bloqueio é algo que sempre me amedronta e fascina. Ver cada palavra colocada no papel de forma preguiçosa, inconseqüente, e depois perceber que há forma naquilo ali é um processo do qual ainda posso me orgulhar, ainda que nem sempre o resultado final seja o que eu pretendia. Mas eu escrevo, "cumpro a minha sina", e com isso tento me fazer entender. Só que as palavras me fogem, e tomam vida, e viram algo maior do que eu poderia imaginar. E aí o mundo se resume a poucas sensações, e eu viro personagem de mim mesmo, vítima dos meus próprios erros e autor de um grande melodrama. E tudo vira outono, inverno. É meu mundo frio, monocromático, duro. Repleto de dúvidas, incertezas, dificuldades. Ainda que meu apenas. Ainda que não caiba mais ninguém nele. Ainda que todo mundo cisme em se identificar. É uma visão, como todas as outras, só que unilateral. Minha. E acaba sendo de todos. Porque a vida é a mesma para quem quer viver, pelo menos em essência, e qualquer um vai sofrer aquilo que precisar sofrer. Dor ou alegria, há mais por aí do que palavras esperando para dar sentido num texto frio qualquer. Eu só as uso porque é o que me cabe fazer. É como eu enxergo, enfim.
Às vezes o céu é cinza, às vezes a chuva cai, às vezes eu sofro um pouco, às vezes eu sei como tudo é. E às vezes não.
5.12.04
Acordo sem a compreensão exata de quantas horas se passaram desde então e a sensação que tenho é que pouco ou quase nada mudou sei que às vezes as coisas perdem o seu sentido em meio à repetição mas quem são os que percebem que as novidades também são cíclicas como todas aquelas comédias românticas de Hollywood que a gente critica mas assiste acreditando em algo maior e melhor é estranho quando emoções intensas e inexperimentadas tomam conta da gente mas não menos estranho é quando descobrimos que não sentimos nada mesmo querendo sentir e aí o que sobra é um mistura de lamentação angústia frustração tristeza incerteza dor a saída passa a ser então fechar-se cada vez mais ainda que o mundo mostre para você que nada é à toa e que mesmo que soe como novo ou velho nunca se pode dizer o que é algo até se experimentar mas há sempre medo envolvido e o pensamento de que existe muito mais a ser perdido do que o que pode ser ganho permanece martelando a cada manhã sem ressaca talvez o pensar seja a atividade mais desprezível do ser humano ao nos trazer a capacidade de entender o que é risco e nos fazer temê-lo sempre e ainda que a nossa ingenuidade tente dizer que não nunca somos depreendidos dele o suficiente para fazer o que deveria ser feito por isso as oportunidades são perdidas e viram sonhos utopias é quando a foto à sua frente parece ganhar vida e aquela música tocada repetidas vezes na manhã seguinte começa a tomar um sentido você só deseja que algo faça efeito para que os dias não passem simplesmente. São 12 horas para a nova idade chegar. O que mudará aqui?
15.11.04
Olhar para os lados, mas não ver nada. Pensar várias vezes antes de agir. Escrever certo por linhas tortas. Talvez o mundo não saiba se acertar por si só, e seja preciso que cada ser humano repita-se infinitamente até que encontre alguma solução ou resposta para o eterno dilema de não se saber de fato o que se é. Curioso. E se alguém encontrasse a resposta, o que faria? Mudaria os cursos da história? Pouco provável. A repetição do erro é desculpa mais confortável do que a inabilidade com um novo possível acerto. Então guardaria para si? Duvido muito, há uma necessidade imensa de cada um de bradar uma descoberta aos quatro cantos como se isso o tornasse melhor por mais que um breve momento, até que ela se torna tão óbvia quanto as demais vítimas do tempo. O fato é que há muito pouco que se faça que fuja do lugar-comum, o óbvio que tentamos evitar a todo instante como se pudéssemos, de fato, alcançar alguma diferença significante. Eu não. Há muito já desisti dessa busca incessante e tortuosa. Sou mais simples agora. Aprendi a ser clichê.
28.9.03
Parece que me falta algo, o que me tornaria capaz de perceber o que deve ser feito em cada ocasião. Hesitante, nunca sei se há ou não um momento, então deixo para lá, penso que não é para mim e aceito a condição de incapaz. Só depois, quando ponho a cabeça no travesseiro, penso em "mil-e-uma-formas-de-fazer-o-que-devia", choramingando a falta de sorte e fingindo ignorar o saber de que a culpa é minha por não conseguir perceber os malditos sinais. Ou, pior até, conseguir perceber sim, mas não ter coragem para acreditar, carregando o fardo de frustrações passadas como se elas fizessem parte de um ciclo, como se jamais pudessem se encerrar. Medo, medo, medo. Por que é tão difícil arriscar? O que há para ser perdido? E o que já não foi perdido pelo não-agir? É preciso menos complicação e mais atitude - eu ouço as paredes me repetindo isso o tempo todo, aos berros. Sim, é claro, está certo, eu sei. Mas falta algo em mim, aquilo que não deixa tudo ir. E aí não adianta trazer o cheiro para casa, especular sobre aquele gesto ou dizer palavras tortas na hora em que não é mais adequado, porque já foi. As cortinas fecharam e o gongo soou. Tal qual naquele cinema, quando estava no começo e nada mudou. Porque eu não soube fazer diferente. Nunca sei. Só aprendi a assistir, não a atuar, e é a vida que não é arte a única que sei viver. Aplausos poucos, preguiçosos. Um cumprimento tímido. A noite se vai, a ocasião também. Faltou você. Ou eu. Sigo me repetindo. Nas dúvidas sou destinado a perder.
13.9.03
Escrevo mais um texto e penso que o serviço está pronto. Toda vez é assim. Um processo de expiação, de catarse, algo quase involuntário, mas necessário. E aí as pessoas lêem, acham bonito, pensam que sou louco, ficam com pena e esquecem. Claro, porque no fundo elas acabam esquecendo. Do texto e de mim. É a lógica do escritor, alguém aí vai dizer, e eu vou concordar. É assim mesmo que funciona. Em um dia aplausos, mais aplausos. Em outro, silêncio. E a cabeça não entende, e a inspiração não vem, e a escrita torna-se mecânica. Mas não há problema algum nisso. É melhor desumanizar sua arte se você não quer uma frustração por segundo.
Tenho sempre a sensação de correr em círculos.
É mais fácil quando você não se importa com o que acontece quando a chuva cai sobre a sua cabeça.
1.9.03
Há perdida em mim a antítese do comportamento antisocial que me é tão característico. Expressa em letras claras, caminhos tortos, novidades intensas. Para poucas. Que surge de um sorriso inocente, de um olhar profundo, de palavras fortes, porém doces. Que se perde junto com o eu que me constitui só. Sempre o último momento, a última chance, errado, apenas aquilo que faz meu mundo girar, ainda que eu relute em admitir como tal.
Ponho-me a viver cada nova com a intensidade que não é reservada para as relações frias do cotidiano. Perdido em cada fronteira, fascinado por um simples toque. Desmonto com 'pontos-em-comum' e 'fomos-feitos-um-pro-outro', e descubro que ninguém é tão bom para achar a pessoa certa errada quanto eu. Risos e lágrimas. Diana, Luisa, Julia ou qualquer uma que possa ser alçada ao pedestal de musa. Delas eu ganho palavras que são minhas, mas que já não me pertencem quando as ponho no papel, onde sigo a rotina de escritor de corações.
Técnicas. Sensações. Eu me apaixono a cada esquina.
29.8.03
16.8.03
Acreditar em sonhos pode ser uma grande furada quando você não consegue viver sua própria realidade. Eu sempre achei que os sonhos eram diferentes da vida real, mas cresci ouvindo que era preciso acreditar neles para se viver melhor. De repente quando se é criança isso faz algum sentido, e até mesmo na adolescência ainda deve servir para algo como alimentar o ego ou criar maiores pretensões, sei lá. O maior problema é que não se constrói, paralelamente, uma preocupação com a altura do tombo. Porque subir é fácil, já que a imaginação não oferece grandes bloqueios. Mas tem a contrapartida, e ela dói. Porque uma hora você vai cair, e aí o chão se vai e você fica perdido sem entender o porquê de tudo aquilo em que você acreditava poder se segurar sumir de uma hora pra outra. É nesse instante que você começa a esbravejar, a questionar tudo que foi dito ao longo de anos como uma doutrina e que, de repente, virou um conjunto de mentiras de momento. A isso eu chamo frustração, e penso que as pessoas deveriam se preocupar mais em não cultivá-las, só que essa história de sonho volta e meia fode com tudo. Eu mesmo vivo sendo enganado, e olha que já aprendi que a vida se mostra em branco e preto e os sonhos em colorido, logo não devia cair no mesmo erro, só que às vezes parece que a vida ganha um pouco de cor e eu vou que nem um pato, achando que o sonho pode virar realidade. Porra nenhuma. As pessoas sempre me mostram que eu estou enganado. Só é estranho perceber isso tão tarde. Eu já deveria saber. O problema, na verdade, está lá no início. Maldita infância.
14.8.03
Às vezes acordo na quarta com ar de segunda, desejando que mais uma semana não se inicie.
Às vezes a ressaca de terça me faz acreditar que ontem foi sábado, a cabeça pesando e o teto se movendo.
Às vezes sinto o tédio de um domingo em plena quinta, o dia cinzento e vazio.
Às vezes.
Talvez sejam todos dias iguais.
Mas às vezes perdem todo o sentido.
- O que você quer de mim?
- Não sei.
- Deveria.
- Ah, tá bom. Que dia é hoje?
- Faz diferença?
- Eu quero saber.
- Pra quê? No final não é tudo igual?
- É?
- Vai acabar sendo.
Sempre é.
11.8.03
Quase todo mundo tem algum hobby do qual se orgulha, aquela coisa que adoraria fazer para o resto da sua vida, mas por medo ou coisa do gênero sempre deixa como segunda opção, como mera diversão. Algo que não parece fácil de ser seguido, aí o sujeito fica se lamentando porque não deu certo com nada, sem perceber que não se dedicou o suficiente ou que abstraiu daquilo que tinha mais paixão por não acreditar na viabilidade. Pois é. Eu não vou ser assim, com certeza. Para bem ou para mal, eu vivo meu hobby com freqüência. Sigo devotamente. Diria até que pratico mais do que deveria, jogando para o lado coisas que deveriam ser levadas com muito mais seriedade. Seu grande problema é ser mais forte que eu. Temos uma relação de dominador e dominado, uma coisa que não consigo explicar. É quase dependência. Ele me consome, toma meu tempo e minha disposição. Sufoca. Só que é um hobby um tanto quanto peculiar: apesar de não conseguir me separar dele, eu não o tenho como paixão. Na verdade, eu o odeio a cada vez que esbarro com ele. Fico me lamentando intensamente a cada manifestação. O que é incrível é como ele gosta de me enganar no início só para depois provar que está ali, firme como sempre. Não dá uma folga. É desesperador muitas vezes. Mas deixa estar. Um dia eu me acostumo e faço dele filosofia de vida. Talvez fique mais fácil de aceitar. Meu nome é Marcelo. Sou um especialista em relacionamentos frustrados.
- Por que você voltou tão amargo?
Ok, eu sei que essa é a primeira pergunta que vão me fazer. Honestamente, não vejo necessidade de explicar nada, portanto, poupem seu tempo com questões como essa. Acho que, no fundo, eu nunca deixei de ser assim, só tinha o cuidado de me disfarçar em sutilezas que não serviram para nada. A verdade é que eu estava precisando de um processo de escrita que me levasse à catarse, e o "Driving In The Rain" está aqui para isso. Sem pretensões, apenas uma válvula de escape. É bem melhor assim.
Então é assim. Morre um, nasce outro. Para quem se acostumou à beleza das palavras do outro blog, já adianto que isso aqui vai ser bem diferente. É direto mesmo, sem piedade. Porque a vida não é bonitinha como dizem por aí e as pessoas não precisam de sentimentalismo barato despejado em letras.
Estou de volta à ativa.