30.4.11

Casamento*

*Para você que nunca surgiu

Não podia ser tão improvável. Não devia ser tão difícil.

A verdade é que nunca imaginei que, de tantas lágrimas que já rolaram pelo meu rosto, algumas fossem ser por perceber que o tempo passa. Não naquela percepção boba de que estou ficando fisicamente mais velho ou de que as coisas que ainda podiam ser feitas há alguns anos não fazem mais sentido. É pior. Elas surgiram dessa sensação incômoda de que a idade que chegou não trouxe junto a realização de uma vontade até então não sabida, desse sentimento de incompletude que, pousando a cabeça no travesseiro, agora bate em mim. Deve ser fácil conviver com isso quando a juventude ainda está no começo ou quando não se tem um coração partido, só que não é mais o caso. Agora dói, agora incomoda. Enquanto isso, fico desejando o momento em que dois mundos vão colidir e gerar uma explosão que tire meu chão, que roube todo o meu ar, que me faça acreditar. Parece simples, se dito desse jeito. Alguns vão até afirmar que é só questão de querer ou aceitar, que as oportunidades estão ali para quem procura ver. Mas, na real, a gente sabe que não é assim; a realidade insiste em me provar que não. Por isso, as tais lágrimas insistem em cair, enquanto só consigo me perguntar quando é que você – quem é você? – vai chegar por aqui para isso ter um fim.

Se é que ele existe também.

18.4.11

Autocrítica

Todos esses textos são ruins.

As palavras têm gosto amargo, as frases são repletas de rancor, os pensamentos estão cheios de saudade.

As entrelinhas de nada valem, os esforços são em vão.

Todos esses textos são ruins.

Você não devia estar aqui. Eu não devia estar aqui. Nada disso devia estar aqui.

Já perdemos tempo demais. Há uma vida para viver ali fora.

Todos os textos.

Nada são.

Eu sou ruim.

Você também.