14.7.08

Pelos domínios

A obsessão do controle sempre me perseguiu. De início, foi a dos pensamentos a que me tomou, ao julgar que todos poderiam ser ordenados e conscientes. Depois, acreditei na dos sentimentos, achando que era capaz de escolher por quem e o que eu iria sentir. Mais tarde, dei vazão à dos meus atos, vislumbrando a possibilidade de abdicar dos impulsos e só agir quando pensado. Hoje, carrego comigo a do tempo, a que mais me angustia e me revela incapaz. A pior de todas. A que atesta nossa limitação, que nos faz meros reféns, que impede de nos mover. A incontrolável. A mais inútil. Porque é no fracasso dela que me vejo sujeito oprimido, cerceado por obrigações-de-dia-e-noite, errante na velocidade intensa do tempo-infinito. Todo controle é insuficiente. Sem ela eu me perco, sou vítima, pobre coitado da rotação mundana. E às vezes tudo que eu desejo é parar e dizer que não dá para seguir adiante. Mas não se é possível mudar o que se escreve com convicção. É quando o estar ocupado vira a regra, e nada mais faz parte das vontades que realizam sonhos. Me-ca-ni-za-do. Es-que-ma-ti-za-do. Simplesmente automatizado. Ou qualquer coisa que o valha para indicar que não somos donos do que queremos. A obsessão do controle. A mais inútil. O meu vício.

22.1.08

Com tesouras

Corre daí, não é seguro. Você sabe que não deve se arriscar assim. Voltar não era preciso. Você sempre seguiu adiante, sempre soube não olhar para trás. Não precisa tentar de novo. Não foi você mesmo que disse que tudo que chegava ao fim não tinha como recomeçar? Como acreditar em algo que nem você é capaz de colocar em prática? É melhor fugir. Esquece tudo, abandona isso que bate aí dentro e caminha além. Lembra como seus passos eram firmes quando você parecia conhecer a direção? Não desvia do trajeto agora. De nada vale voltar, acredite. Seria ficar sem rumo mais uma vez. E demorou para que você achasse um. Ou será que já esqueceu a sensação de dirigir na chuva, com pouca visibilidade e quase nenhum contato? Não, você não quer isso de novo. Corre daí, não é seguro. Você sabe que não deve se arriscar assim. Não tem razão para se envolver nisso agora. A gente não costuma repetir os erros. É para isso que dizemos ter superado. Mesmo que saibamos que não é a verdade. Enganar-se é preciso. Não foi você mesmo que disse que a mentira é o fim de toda verdade? É melhor mentir. E sonhar que a terra áspera é céu de brigadeiro. É quando fica fácil caminhar, com a cabeça nas nuvens, trocando os pés pelas mãos. Porque de nada vale ficar aí, sem jeito, morrendo de medo de tentar. O que você quer nunca é o que você tem, e menos ainda o que você deixou de ter. É sempre o que falta. E sempre vai faltar. Por isso não é prudente continuar voltando. Não é bom recomeçar. Vai acabar descobrindo que não dá para seguir em frente. De novo. Então é melhor fugir. E esquecer essa história de que não há o seu lugar. Corre daí, não é seguro. Você já sabe onde isso vai dar.