5.4.13

Retrocesso

Se você soubesse que, ainda hoje, quando olho para a folha em branco, é sobre nossa história que tenho vontade de escrever, pensaria em voltar? Ou será que já me tornei apenas uma sombra em seu passado, algo de que não vale a pena recordar por mais do que um breve instante? Você gostaria de ouvir que é na lembrança do seu sorriso que eu encontro a paz? Que o vazio ainda existe todos os dias? Que bastaria um gesto para me ter de novo? Ou você já seguiu para tão longe que nem pode mais me avistar? Se você me lesse, cogitaria? Arriscaria, finalmente? Ou essas palavras já não encontram porto de chegada? É verdade que meu pedir ficou mudo? Que meu sonhar ficou sem cor? É assim que tudo é agora?

Hoje me perguntaram se o que eu escrevo é real. Talvez por isso você tenha ganhado mais um texto. Já não direi que é o último. Tampouco que é merecido. Mas está aqui.

Pena que você não.

18.2.13

Travessia

Por muito tempo, procurei a euforia. Cansado da mesmice, acreditava que o novo me traria sempre algo de bom. Por isso, abandonava, trocava, descobria. No recomeço cotidiano, satisfazia-me. Mas o conforto pouco durava, e os ciclos voltavam a se repetir. Corria atrás de uma emoção desestabilizadora, de uma alegria incontornável, pensando que era no excesso que se encontrava a plenitude. Quanta ilusão. Hoje, busco a calmaria. Aprendi que nas sutilezas posso encontrar o que me cabe, e que, nas ausências, consigo valorizar o que realmente conta. Já não me importam os números - essa felicidade que se quantifica para nada. Quero o menor, o especifico, o circunstancial. O que se basta por si só. O quase-instantâneo. O mais-que-momento. O talvez-eterno.

Por muito tempo, procurei ter mais. Agora, procuro o que quase não se vê - mas se sente, e de tão doce, faz não precisar de nada além. E só por isso já vale a pena acreditar.