20.1.06

Efemeridade

Queria saber medir o tempo com algo que não fossem horas minutos segundos. Talvez medir com a intensidade dos olhares perdidos ou das lágrimas em vão. Ou, quem sabe medir, com as esperanças depositadas em amores infrutíferos ou com as palavras ditas por calor da ocasião. De repente medir com as músicas dedicadas em silêncio ou com as cenas revistas em comunhão. Ou simplesmente com os passos que nos afastam-aproximam de qualquer objetivo.

Mas não. Só aprendi a lógica das coisas simples, do mundo simples, da vida banal. E, como todos, apenas me sinto capaz de perceber aquilo que passa, nunca o que repassa ou o que permanece aqui. É a percepção mundana de quem cresce acompanhando em folhas de calendário a sua evolução, e não percebe que o sentido não está ali. É um conhecimento que não vem das marcas e dos controles, uma noção que se desapega quando percebemos o quanto deixamos de viver por querermos viver mais. São as amarras de algo que já nasce para ser efêmero, e que nos deixa acostumados a ver só ir e sorrir, sem entender que, quando não há relógio que marque o tempo de dentro, não há vida que explique o tempo lá fora.