18.11.07

Revanche

Despertador que toca. Música que soa. Ar que respira. Pensamento que viaja.

Rota incerta. Estrada deserta. Maré alta. Lua minguante.

Definições. Abstrações. Sentidos. Palavras.

Querer dizer o que não deve ser dito é a tarefa dos tolos que se propõem a escrever para aplacar seus próprios medos. Dizem por dizer, como se assim tudo se esgotasse e não houvesse mais dúvida que não fosse sanada em letras conjuntas. Eu não aguentava mais ser assim. Resolvi que escreveria sobre o nada, que diria apenas aquilo que em mim não cabia, mas não por sentir demais, e sim por não me ver ali. Soltaria palavras ao vento, deixando que cada leitor as pegasse e fizesse com elas o que julgasse mais adequado. Organizasse à sua maneira, catando pedaços no chão e escrevendo no céu. Sei lá. Só não queria que coubesse mais a mim dizer o que não deve ser dito. Eu não era mais um tolo.

Então sentei. E já se iam meses sem uma palavra sequer saindo das minhas mãos. Mesmo assim, escrevi. As primeiras vieram como óbvias. As segundas, como fortes. Não quis imaginar as últimas. Iria mais uma vez virar refém do peso que delas brotam se continuasse naquele caminho. Rasguei a folha e mudei o rumo. Foi então que vi que não seriam palavras à toa, pois o que vinha naturalmente era diferente daquilo que eu queria dizer agora. Sairiam apenas os clichês, os lugares-comuns, os ditos que todo mundo diz. E eu sabia que não queria mais ser assim. Porém, também parecia que não sabia o que eu deveria ser. E comecei a me sentir tolo.

"São tolices / que penso sobre você"

Foi então que vieram imagens. Muitas. Desconexas, complementares, instigantes. E me fui a desenhar, livre, sem o medo que as letras trazem em suas formas. Fiz traços, traços, traços. Nenhuma palavra. Eu, que sempre delas me fiz parte, dizia agora mais de mim por aquilo que nada dizia. Via cada reta me deixando torto. Via cada volta me deixando no início. Eu não era mais tolo. Era vivo.

Pela primeira vez, os brancos não incomodavam. As linhas não precisavam ser paralelas. Os limites não existiam. Tingi-me de fácil, de claro, de objetivo. Como era simples redefinir-me assim. Perdiam-se as angústias, os entornos, os quase-caminhos. Mesmo que apenas para mim. Disse o que não devia ser dito da maneira que não devia ser feita. Os tolos seriam os outros. E eu seria o mais vivo.

Aprendendo a dizer o que digo sem dizer o que sinto.

14.5.07

Desvisceralmente

Quase acreditei que seria possível voar ao abrir os braços depois que vi que o céu azul claro era vermelho porque o sol estava indo embora levando consigo a loucura que é dos homens que sentem o que não devem sentir mas vêem o que só os loucos podem enxergar.

E de repente pedi aos céus que me dessem a luz que fizesse sentir tudo aquilo que as nuvens já sabem explicar para que a volta fosse calmaria enquanto a força que escapava das mãos subia para a cabeça sem que eu soubesse direito como caminhar num chão que não tem o seu lugar.

Descicrescendocomopedraquerolaemumriodesonsmurmuranteseventosquesaemdoquarto

Para cair com os pés no chão e caminhar com a cabeça no céu.

Para tocar com as mãos no espaço e observar com os olhos na alma.

Saindo do espaço-céu de um momento de queda subindo para um lugar-terra de uma esperança perdida.

Seguindo sozinho pelo buraco mais fundo da alma de qualquer sonhador.