28.9.03

Ressonância

Parece que me falta algo, o que me tornaria capaz de perceber o que deve ser feito em cada ocasião. Hesitante, nunca sei se há ou não um momento, então deixo para lá, penso que não é para mim e aceito a condição de incapaz. Só depois, quando ponho a cabeça no travesseiro, penso em "mil-e-uma-formas-de-fazer-o-que-devia", choramingando a falta de sorte e fingindo ignorar o saber de que a culpa é minha por não conseguir perceber os malditos sinais. Ou, pior até, conseguir perceber sim, mas não ter coragem para acreditar, carregando o fardo de frustrações passadas como se elas fizessem parte de um ciclo, como se jamais pudessem se encerrar. Medo, medo, medo. Por que é tão difícil arriscar? O que há para ser perdido? E o que já não foi perdido pelo não-agir? É preciso menos complicação e mais atitude - eu ouço as paredes me repetindo isso o tempo todo, aos berros. Sim, é claro, está certo, eu sei. Mas falta algo em mim, aquilo que não deixa tudo ir. E aí não adianta trazer o cheiro para casa, especular sobre aquele gesto ou dizer palavras tortas na hora em que não é mais adequado, porque já foi. As cortinas fecharam e o gongo soou. Tal qual naquele cinema, quando estava no começo e nada mudou. Porque eu não soube fazer diferente. Nunca sei. Só aprendi a assistir, não a atuar, e é a vida que não é arte a única que sei viver. Aplausos poucos, preguiçosos. Um cumprimento tímido. A noite se vai, a ocasião também. Faltou você. Ou eu. Sigo me repetindo. Nas dúvidas sou destinado a perder.

13.9.03

Desarticuladamente

Escrevo mais um texto e penso que o serviço está pronto. Toda vez é assim. Um processo de expiação, de catarse, algo quase involuntário, mas necessário. E aí as pessoas lêem, acham bonito, pensam que sou louco, ficam com pena e esquecem. Claro, porque no fundo elas acabam esquecendo. Do texto e de mim. É a lógica do escritor, alguém aí vai dizer, e eu vou concordar. É assim mesmo que funciona. Em um dia aplausos, mais aplausos. Em outro, silêncio. E a cabeça não entende, e a inspiração não vem, e a escrita torna-se mecânica. Mas não há problema algum nisso. É melhor desumanizar sua arte se você não quer uma frustração por segundo.

Tenho sempre a sensação de correr em círculos.

É mais fácil quando você não se importa com o que acontece quando a chuva cai sobre a sua cabeça.

1.9.03

Maldizendo

Há perdida em mim a antítese do comportamento antisocial que me é tão característico. Expressa em letras claras, caminhos tortos, novidades intensas. Para poucas. Que surge de um sorriso inocente, de um olhar profundo, de palavras fortes, porém doces. Que se perde junto com o eu que me constitui só. Sempre o último momento, a última chance, errado, apenas aquilo que faz meu mundo girar, ainda que eu relute em admitir como tal.

Ponho-me a viver cada nova com a intensidade que não é reservada para as relações frias do cotidiano. Perdido em cada fronteira, fascinado por um simples toque. Desmonto com 'pontos-em-comum' e 'fomos-feitos-um-pro-outro', e descubro que ninguém é tão bom para achar a pessoa certa errada quanto eu. Risos e lágrimas. Diana, Luisa, Julia ou qualquer uma que possa ser alçada ao pedestal de musa. Delas eu ganho palavras que são minhas, mas que já não me pertencem quando as ponho no papel, onde sigo a rotina de escritor de corações.

Técnicas. Sensações. Eu me apaixono a cada esquina.