23.12.09

The end has no end

E então 2009 está chegando ao fim. Esse tal ano que, por motivos tão diversos, acabou se tornando único. Afinal, foi nele que cheguei aos 30, que comecei o mestrado, que gravei o novo disco do Cabaret, que troquei de carro, que terminei minha licenciatura, que abri uma cafeteria, que vi o Flamengo ser hexacampeão brasileiro. Difícil até imaginar como tanta coisa aconteceu em apenas 365 dias. Mas a verdade é que 2009 vai entrar para a minha história como um ano de realizações, ou pelo menos como o início delas. Chega a ser simbólico que tudo tenha começado com uma obra, lá em janeiro, e que se encerre agora, em dezembro, com a calmaria da estabilidade. Foi bom ver fevereiro passar preguiçoso, ter no show do Radiohead a razão para março chegar logo ao fim, passar a primeira metade de abril organizando a inauguração do café e a segunda aprendendo como aquilo lá funciona, entrar em estúdio em maio para dar vida a “A paixão segundo Cabaret”, encarar as primeiras avaliações do mestrado em junho e perder as férias de julho para deixar tudo pronto para um segundo semestre alucinante, não sem antes aplaudir a formatura da amiga mais importante. Talvez por isso agosto tenha corrido tanto, mal dando tempo para comemorar com meus pais os seus respectivos aniversários, e de setembro quase nada tenha ficado, a não ser o ressurgimento da pessoa que veria, em outubro, todos os filmes do Festival do Rio comigo, mexendo com convicções supostamente inabaláveis, e que daria mais um sentido para o 11 de outubro na minha vida. Quando novembro se desenrolou, havia, então, um namoro aqui. Enquanto isso, o Flamengo crescia no campeonato nacional, e foi em dezembro que o meu aniversário de 30 anos ganhou o capricho de coincidir com o dia do hexa. Histórico. Viagens, título, shows, encontros. Que ano. E então 2009 está chegando ao fim. Se existe algo a pedir para 2010, que seja ele uma continuidade. Porque, pela primeira vez, tudo está no lugar certo.

14.6.09

Minhas canções

Eu queria ter feito algumas músicas. Sempre penso nisso, assim como todo mundo. A diferença é que eu tenho a minha lista. São muitas, é verdade, mas me peguei recordando algumas recentemente. E resolvi escrever um pouco sobre isso. É bobo, eu sei, mas me pareceu necessário. Uma forma de expelir sentimentos guardados, talvez. Não sei. A verdade é que aqui estão. Pouco me importa se faz sentido ou não.

Queria ter feito “My love”, do Paul McCartney, como a minha maior declaração de amor. Queria ter feito “My funny valentine”, de Richard Rodgers e Lorenz Hart , para ter trazido à luz a música mais bonita de todos os tempos e dar para o Chet Baker cantar. Queria ter feito “At my most beautiful”, do R.E.M., para registrar o valor dos pequenos gestos daquela relação que vivi. Queria ter feito “Live forever”, do Oasis, para nos eternizar. Queria ter feito “God only knows”, dos Beach Boys, em um momento de consciência da plenitude devido à existência dela. Queria ter feito “Lost cause”, do Beck, para poder dar forma aos meus mais sinceros sentimentos quando ajo errado com alguém. Queria ter feito “Catch my disease”, do Ben Lee, para outros cantarem bem alto toda a alegria que ela traduz. Queria ter feito “Either way”, do Wilco, para alguém dormir ouvindo, como faço todo dia. Queria ter feito “Amsterdam”, do Guster, para que uma pessoa mandasse alguns versos para outra e ela nunca mais esquecesse. Queria ter feito “Time of the season”, dos Zombies, para simbolizar toda uma época – da minha vida ou do mundo. Queria ter feito “No surprises”, do Radiohead, para levar alguém às lágrimas sempre que o dedilhado de guitarra começasse. Queria ter feito “There was a light that never goes out”, dos Smiths, como um pedido muito especial. Queria ter feito “A design for life”, dos Manic Street Preachers, para ser meu um refrão tão bom. Queria ter feito “Heroes”, do David Bowie, para dizer o que um casal pode ser de tantas formas diferentes e, mesmo assim, tão precisas. Queria ter feito “Coffe & TV”, do Blur, porque fala de mim como ninguém jamais foi capaz. Queria ter feito “Everlong”, do Foo Fighters, para dar um recado do quanto estava disposto a esperar. Queria ter feito “Yellow”, do Coldplay, para me sentir arrepiado toda vez que ouvisse uma multidão berrando as primeiras frases em um show. Queria ter feito “Candy”, do Iggy Pop, para um casal cantar feliz em um karaokê no bairro da Liberdade. Queria ter feito “Happy together”, dos Turtles, porque uma música com esse título caberia bem na história de nós dois. Queria ter feito “Bohemian like you”, dos Dandy Warhols, para que duas pessoas, perfeitas uma para outra, dançassem como se não houvesse amanhã. Queria ter feito “Sound of silence”, de Simon & Garfunkel, para trazer lembranças boas de alguém que já se foi. Queria ter feito “Always look on the bright side of life”, do Monty Phyton, porque a vida sem humor não faz sentido. Queria ter feito “In my life”, dos Beatles, e a ter como epitáfio da minha existência. Mas, acima de tudo, eu queria ter feito a canção que toca dentro de mim sempre que penso nela. Uma canção cuja autoria é desconhecida e o intérprete, um qualquer. Uma canção de amor. Simples, bonita, singela. Que talvez nunca venha a tomar forma, conhecer o mundo. Ainda que perfeita para os momentos que iríamos (iremos?) viver.

19.1.09

Curto e grosseiro

Acordei acreditando que era possível mudar a mim mesmo. Refazer passos, rever conceitos, reaprender a vida. Por isso, calcei os chinelos e fui encontrar o mundo.

Pena que ele passou uma rasteira e, quando vi, minha cara marcada no chão lembrava o quanto estou preso ao que sempre fui.