20.4.14

Reconhecimento

No dia em que parti seu coração, lembro-me de você sair andando, parar mais adiante, olhar com fúria e me dizer: "desta vez, você superou qualquer limite". Naquela hora, entendi que havia magoado a pessoa que menos merecia e da forma mais cruel possível, mas quis acreditar que não era para sempre. E era. Foi assim que os dias viraram anos, e a ausência virou rotina. Aos poucos, fui desacostumando a sentir, deixando vítimas da minha frieza a cada relação terminada. Buscava complemento e só encontrava ausência. Vazio. A carne, assim, virou lata, e as paixões unilaterais não mereceram nem parte do meu cuidado. Pensei estar seguindo em frente, buscando em outros beijos o amor que apenas sentia nos seus, só que andava em círculos - hoje eu sei. Terminei por espalhar sofrimento de maneira irresponsável, magoando quem só queria me salvar e errando tantas vezes quanto pudesse. Eu devia saber. Afinal, eu nunca soube dar valor, você me dizia, talvez encantado por uma vida de excessos que não me deixava sequer sentir de verdade. Fui errante. Colecionei histórias que não merecem uma página. Construí memórias que não pulsam por mais que um segundo. E não tenho mais você, nem terei ninguém. Porque no dia em que parti seu coração, lembro-me de pensar que era melhor doer ali para não doer mais. Que nada. Naquele dia eu comecei a sangrar - e parecia que era impossível cessar. Desculpa. Desculpem. Eu desaprendi a fazer o bem para quem pára por aqui. É tempo de recomeçar.

2.3.14

Pop Music

Queria escrever um texto tão simples quanto uma canção pop. Um texto que falasse dos sentimentos mais sinceros, dos gestos mais tranquilos. Um texto que qualquer um pudesse recitar, que fizesse alguém sorrir ao som das primeiras palavras. Um texto que fosse bom de ser lido tantas e tantas vezes por dia, sem parar. Para falar sobre dois que se encontram e são felizes assim. Para contar de um amor que durasse por uma existência. Para ensinar a crescer. Para dizer como viver. Para ajudar a sonhar. Um texto de três acordes sobre um bom-dia preguiçoso. Um texto-refrão que se repete até o fim, terminando baixinho - restando apenas o silêncio, a pausa prolongada até o infinito. E a sua voz pedindo para começar de novo.