Não podia ser tão improvável. Não devia ser tão difícil.
A verdade é que nunca imaginei que, de tantas lágrimas que já rolaram pelo meu rosto, algumas fossem ser por perceber que o tempo passa. Não naquela percepção boba de que estou ficando fisicamente mais velho ou de que as coisas que ainda podiam ser feitas há alguns anos não fazem mais sentido. É pior. Elas surgiram dessa sensação incômoda de que a idade que chegou não trouxe junto a realização de uma vontade até então não sabida, desse sentimento de incompletude que, pousando a cabeça no travesseiro, agora bate em mim. Deve ser fácil conviver com isso quando a juventude ainda está no começo ou quando não se tem um coração partido, só que não é mais o caso. Agora dói, agora incomoda. Enquanto isso, fico desejando o momento em que dois mundos vão colidir e gerar uma explosão que tire meu chão, que roube todo o meu ar, que me faça acreditar. Parece simples, se dito desse jeito. Alguns vão até afirmar que é só questão de querer ou aceitar, que as oportunidades estão ali para quem procura ver. Mas, na real, a gente sabe que não é assim; a realidade insiste em me provar que não. Por isso, as tais lágrimas insistem em cair, enquanto só consigo me perguntar quando é que você – quem é você? – vai chegar por aqui para isso ter um fim.
Se é que ele existe também.