3.1.15

Pasárgada

Existe uma tristeza aqui dentro que, por vezes, apresenta-se com uma força visceral. É quando a garganta aperta e os olhos marejam sem que nada tenha acontecido, me lembrando que o vazio existe e que a ausência continua a incomodar. Aí a voz embarga, o corpo fraqueja e o coração parece parar. O pior, porém, não é saber que ela está em mim, mas não poder controlar a sua aparição. Porque, na maior parte do tempo, estar feliz é possível. Há muito com que possa me ocupar, então ela fica ali, quietinha, guardada num canto qualquer. Mas basta um silêncio, um dia livre ou uma chuva fina para me derrubar. E isso acontece, simplesmente. Mesmo que eu tente fugir. Mesmo que eu insista em não pensar. E machuca, sangra, atormenta. Apesar de tudo, também sei que ela vai embora quando o dia acabar, então basta apenas suportar por algumas horas. Chorar um pouco, gritar um tanto, lamentar por demais. Dormir. Dormir torcendo para que, ao menos em meus sonhos, você esteja aqui para isso parar de doer. Porque lá você sempre volta. Porque lá a tristeza não existe. Porque lá não há horas vazias nem página em branco. Somos só nos dois. Novamente. Até o fim.