O óbvio ultrajante
Tentar escrever sob a pressão do bloqueio é algo que sempre me amedronta e fascina. Ver cada palavra colocada no papel de forma preguiçosa, inconseqüente, e depois perceber que há forma naquilo ali é um processo do qual ainda posso me orgulhar, ainda que nem sempre o resultado final seja o que eu pretendia. Mas eu escrevo, "cumpro a minha sina", e com isso tento me fazer entender. Só que as palavras me fogem, e tomam vida, e viram algo maior do que eu poderia imaginar. E aí o mundo se resume a poucas sensações, e eu viro personagem de mim mesmo, vítima dos meus próprios erros e autor de um grande melodrama. E tudo vira outono, inverno. É meu mundo frio, monocromático, duro. Repleto de dúvidas, incertezas, dificuldades. Ainda que meu apenas. Ainda que não caiba mais ninguém nele. Ainda que todo mundo cisme em se identificar. É uma visão, como todas as outras, só que unilateral. Minha. E acaba sendo de todos. Porque a vida é a mesma para quem quer viver, pelo menos em essência, e qualquer um vai sofrer aquilo que precisar sofrer. Dor ou alegria, há mais por aí do que palavras esperando para dar sentido num texto frio qualquer. Eu só as uso porque é o que me cabe fazer. É como eu enxergo, enfim.
Às vezes o céu é cinza, às vezes a chuva cai, às vezes eu sofro um pouco, às vezes eu sei como tudo é. E às vezes não.