O
sol se punha havia pouco quando ela o olhou com ternura e pensou sobre a sorte
que tinha de estar ali. Foram anos esperando por aquele momento, e agora
já nem lembrava mais como era não ter sua companhia. Sua respiração tranquila,
seu semblante dócil, seu abraço acalentador, tudo nele era motivo para ela crer
que havia, enfim, encontrado o amor. Ele, por sua vez, parecia absorto naquela
sensação. Vez por outra tocava os cabelos dela, em gesto tímido de carinho. Seu
coração, porém, mantinha-se disparado, em ansiedade quase juvenil. Beijava-a
com singular leveza, como se cada tocar dos lábios representasse um universo
pedindo para ser sentido. Eram movimentos sutis, mas tão plenos de desejo que
pareciam durar uma eternidade. Os suspiros eram em uníssono, e quando a cabeça
dela pousou rapidamente sobre seu ombro direito, ele também pensou o quanto era
especial a ter em sua vida. O silêncio era cúmplice de que os dois sintetizavam
a essência do que havia de mais bonito na humanidade. Foi quando se entreolharam,
e o brilho nos olhos foi o mesmo da primeira vez, quando ela, sentada numa
cadeira, o acompanhou cruzar todo o salão e a convidar para uma dança.
Sorriram.
-
Vô! Vó! Vocês não vêm jantar com a gente?
Levantaram-se
do banco, de mãos dadas, com o horizonte de estrelas os contemplando. Havia
felicidade. Havia sentido. Eram verdade.
Dançaram
- sem música - a valsa mais bonita de todos os tempos. O jantar esperaria mais
alguns minutos. Os pequenos voltariam a chamar. Mas agora eram eles, de novo,
no meio daquele baile de tantos e tantos anos atrás. E aquela canção (a mesma
canção) nunca iria parar de tocar.
*para
meus saudosos avós Fernando e Lindalva, que hoje dançam juntos, certamente, lá
no Céu.