Ressonância
Parece que me falta algo, o que me tornaria capaz de perceber o que deve ser feito em cada ocasião. Hesitante, nunca sei se há ou não um momento, então deixo para lá, penso que não é para mim e aceito a condição de incapaz. Só depois, quando ponho a cabeça no travesseiro, penso em "mil-e-uma-formas-de-fazer-o-que-devia", choramingando a falta de sorte e fingindo ignorar o saber de que a culpa é minha por não conseguir perceber os malditos sinais. Ou, pior até, conseguir perceber sim, mas não ter coragem para acreditar, carregando o fardo de frustrações passadas como se elas fizessem parte de um ciclo, como se jamais pudessem se encerrar. Medo, medo, medo. Por que é tão difícil arriscar? O que há para ser perdido? E o que já não foi perdido pelo não-agir? É preciso menos complicação e mais atitude - eu ouço as paredes me repetindo isso o tempo todo, aos berros. Sim, é claro, está certo, eu sei. Mas falta algo em mim, aquilo que não deixa tudo ir. E aí não adianta trazer o cheiro para casa, especular sobre aquele gesto ou dizer palavras tortas na hora em que não é mais adequado, porque já foi. As cortinas fecharam e o gongo soou. Tal qual naquele cinema, quando estava no começo e nada mudou. Porque eu não soube fazer diferente. Nunca sei. Só aprendi a assistir, não a atuar, e é a vida que não é arte a única que sei viver. Aplausos poucos, preguiçosos. Um cumprimento tímido. A noite se vai, a ocasião também. Faltou você. Ou eu. Sigo me repetindo. Nas dúvidas sou destinado a perder.
13.9.03
Desarticuladamente
Escrevo mais um texto e penso que o serviço está pronto. Toda vez é assim. Um processo de expiação, de catarse, algo quase involuntário, mas necessário. E aí as pessoas lêem, acham bonito, pensam que sou louco, ficam com pena e esquecem. Claro, porque no fundo elas acabam esquecendo. Do texto e de mim. É a lógica do escritor, alguém aí vai dizer, e eu vou concordar. É assim mesmo que funciona. Em um dia aplausos, mais aplausos. Em outro, silêncio. E a cabeça não entende, e a inspiração não vem, e a escrita torna-se mecânica. Mas não há problema algum nisso. É melhor desumanizar sua arte se você não quer uma frustração por segundo.
Tenho sempre a sensação de correr em círculos.
É mais fácil quando você não se importa com o que acontece quando a chuva cai sobre a sua cabeça.
Escrevo mais um texto e penso que o serviço está pronto. Toda vez é assim. Um processo de expiação, de catarse, algo quase involuntário, mas necessário. E aí as pessoas lêem, acham bonito, pensam que sou louco, ficam com pena e esquecem. Claro, porque no fundo elas acabam esquecendo. Do texto e de mim. É a lógica do escritor, alguém aí vai dizer, e eu vou concordar. É assim mesmo que funciona. Em um dia aplausos, mais aplausos. Em outro, silêncio. E a cabeça não entende, e a inspiração não vem, e a escrita torna-se mecânica. Mas não há problema algum nisso. É melhor desumanizar sua arte se você não quer uma frustração por segundo.
Tenho sempre a sensação de correr em círculos.
É mais fácil quando você não se importa com o que acontece quando a chuva cai sobre a sua cabeça.
1.9.03
Maldizendo
Há perdida em mim a antítese do comportamento antisocial que me é tão característico. Expressa em letras claras, caminhos tortos, novidades intensas. Para poucas. Que surge de um sorriso inocente, de um olhar profundo, de palavras fortes, porém doces. Que se perde junto com o eu que me constitui só. Sempre o último momento, a última chance, errado, apenas aquilo que faz meu mundo girar, ainda que eu relute em admitir como tal.
Ponho-me a viver cada nova com a intensidade que não é reservada para as relações frias do cotidiano. Perdido em cada fronteira, fascinado por um simples toque. Desmonto com 'pontos-em-comum' e 'fomos-feitos-um-pro-outro', e descubro que ninguém é tão bom para achar a pessoa certa errada quanto eu. Risos e lágrimas. Diana, Luisa, Julia ou qualquer uma que possa ser alçada ao pedestal de musa. Delas eu ganho palavras que são minhas, mas que já não me pertencem quando as ponho no papel, onde sigo a rotina de escritor de corações.
Técnicas. Sensações. Eu me apaixono a cada esquina.
Há perdida em mim a antítese do comportamento antisocial que me é tão característico. Expressa em letras claras, caminhos tortos, novidades intensas. Para poucas. Que surge de um sorriso inocente, de um olhar profundo, de palavras fortes, porém doces. Que se perde junto com o eu que me constitui só. Sempre o último momento, a última chance, errado, apenas aquilo que faz meu mundo girar, ainda que eu relute em admitir como tal.
Ponho-me a viver cada nova com a intensidade que não é reservada para as relações frias do cotidiano. Perdido em cada fronteira, fascinado por um simples toque. Desmonto com 'pontos-em-comum' e 'fomos-feitos-um-pro-outro', e descubro que ninguém é tão bom para achar a pessoa certa errada quanto eu. Risos e lágrimas. Diana, Luisa, Julia ou qualquer uma que possa ser alçada ao pedestal de musa. Delas eu ganho palavras que são minhas, mas que já não me pertencem quando as ponho no papel, onde sigo a rotina de escritor de corações.
Técnicas. Sensações. Eu me apaixono a cada esquina.
29.8.03
16.8.03
Verdades
Acreditar em sonhos pode ser uma grande furada quando você não consegue viver sua própria realidade. Eu sempre achei que os sonhos eram diferentes da vida real, mas cresci ouvindo que era preciso acreditar neles para se viver melhor. De repente quando se é criança isso faz algum sentido, e até mesmo na adolescência ainda deve servir para algo como alimentar o ego ou criar maiores pretensões, sei lá. O maior problema é que não se constrói, paralelamente, uma preocupação com a altura do tombo. Porque subir é fácil, já que a imaginação não oferece grandes bloqueios. Mas tem a contrapartida, e ela dói. Porque uma hora você vai cair, e aí o chão se vai e você fica perdido sem entender o porquê de tudo aquilo em que você acreditava poder se segurar sumir de uma hora pra outra. É nesse instante que você começa a esbravejar, a questionar tudo que foi dito ao longo de anos como uma doutrina e que, de repente, virou um conjunto de mentiras de momento. A isso eu chamo frustração, e penso que as pessoas deveriam se preocupar mais em não cultivá-las, só que essa história de sonho volta e meia fode com tudo. Eu mesmo vivo sendo enganado, e olha que já aprendi que a vida se mostra em branco e preto e os sonhos em colorido, logo não devia cair no mesmo erro, só que às vezes parece que a vida ganha um pouco de cor e eu vou que nem um pato, achando que o sonho pode virar realidade. Porra nenhuma. As pessoas sempre me mostram que eu estou enganado. Só é estranho perceber isso tão tarde. Eu já deveria saber. O problema, na verdade, está lá no início. Maldita infância.
Acreditar em sonhos pode ser uma grande furada quando você não consegue viver sua própria realidade. Eu sempre achei que os sonhos eram diferentes da vida real, mas cresci ouvindo que era preciso acreditar neles para se viver melhor. De repente quando se é criança isso faz algum sentido, e até mesmo na adolescência ainda deve servir para algo como alimentar o ego ou criar maiores pretensões, sei lá. O maior problema é que não se constrói, paralelamente, uma preocupação com a altura do tombo. Porque subir é fácil, já que a imaginação não oferece grandes bloqueios. Mas tem a contrapartida, e ela dói. Porque uma hora você vai cair, e aí o chão se vai e você fica perdido sem entender o porquê de tudo aquilo em que você acreditava poder se segurar sumir de uma hora pra outra. É nesse instante que você começa a esbravejar, a questionar tudo que foi dito ao longo de anos como uma doutrina e que, de repente, virou um conjunto de mentiras de momento. A isso eu chamo frustração, e penso que as pessoas deveriam se preocupar mais em não cultivá-las, só que essa história de sonho volta e meia fode com tudo. Eu mesmo vivo sendo enganado, e olha que já aprendi que a vida se mostra em branco e preto e os sonhos em colorido, logo não devia cair no mesmo erro, só que às vezes parece que a vida ganha um pouco de cor e eu vou que nem um pato, achando que o sonho pode virar realidade. Porra nenhuma. As pessoas sempre me mostram que eu estou enganado. Só é estranho perceber isso tão tarde. Eu já deveria saber. O problema, na verdade, está lá no início. Maldita infância.
14.8.03
Calendário
Às vezes acordo na quarta com ar de segunda, desejando que mais uma semana não se inicie.
Às vezes a ressaca de terça me faz acreditar que ontem foi sábado, a cabeça pesando e o teto se movendo.
Às vezes sinto o tédio de um domingo em plena quinta, o dia cinzento e vazio.
Às vezes.
Talvez sejam todos dias iguais.
Mas às vezes perdem todo o sentido.
- O que você quer de mim?
- Não sei.
- Deveria.
- Ah, tá bom. Que dia é hoje?
- Faz diferença?
- Eu quero saber.
- Pra quê? No final não é tudo igual?
- É?
- Vai acabar sendo.
Sempre é.
Às vezes acordo na quarta com ar de segunda, desejando que mais uma semana não se inicie.
Às vezes a ressaca de terça me faz acreditar que ontem foi sábado, a cabeça pesando e o teto se movendo.
Às vezes sinto o tédio de um domingo em plena quinta, o dia cinzento e vazio.
Às vezes.
Talvez sejam todos dias iguais.
Mas às vezes perdem todo o sentido.
- O que você quer de mim?
- Não sei.
- Deveria.
- Ah, tá bom. Que dia é hoje?
- Faz diferença?
- Eu quero saber.
- Pra quê? No final não é tudo igual?
- É?
- Vai acabar sendo.
Sempre é.
11.8.03
Hobby
Quase todo mundo tem algum hobby do qual se orgulha, aquela coisa que adoraria fazer para o resto da sua vida, mas por medo ou coisa do gênero sempre deixa como segunda opção, como mera diversão. Algo que não parece fácil de ser seguido, aí o sujeito fica se lamentando porque não deu certo com nada, sem perceber que não se dedicou o suficiente ou que abstraiu daquilo que tinha mais paixão por não acreditar na viabilidade. Pois é. Eu não vou ser assim, com certeza. Para bem ou para mal, eu vivo meu hobby com freqüência. Sigo devotamente. Diria até que pratico mais do que deveria, jogando para o lado coisas que deveriam ser levadas com muito mais seriedade. Seu grande problema é ser mais forte que eu. Temos uma relação de dominador e dominado, uma coisa que não consigo explicar. É quase dependência. Ele me consome, toma meu tempo e minha disposição. Sufoca. Só que é um hobby um tanto quanto peculiar: apesar de não conseguir me separar dele, eu não o tenho como paixão. Na verdade, eu o odeio a cada vez que esbarro com ele. Fico me lamentando intensamente a cada manifestação. O que é incrível é como ele gosta de me enganar no início só para depois provar que está ali, firme como sempre. Não dá uma folga. É desesperador muitas vezes. Mas deixa estar. Um dia eu me acostumo e faço dele filosofia de vida. Talvez fique mais fácil de aceitar. Meu nome é Marcelo. Sou um especialista em relacionamentos frustrados.
Quase todo mundo tem algum hobby do qual se orgulha, aquela coisa que adoraria fazer para o resto da sua vida, mas por medo ou coisa do gênero sempre deixa como segunda opção, como mera diversão. Algo que não parece fácil de ser seguido, aí o sujeito fica se lamentando porque não deu certo com nada, sem perceber que não se dedicou o suficiente ou que abstraiu daquilo que tinha mais paixão por não acreditar na viabilidade. Pois é. Eu não vou ser assim, com certeza. Para bem ou para mal, eu vivo meu hobby com freqüência. Sigo devotamente. Diria até que pratico mais do que deveria, jogando para o lado coisas que deveriam ser levadas com muito mais seriedade. Seu grande problema é ser mais forte que eu. Temos uma relação de dominador e dominado, uma coisa que não consigo explicar. É quase dependência. Ele me consome, toma meu tempo e minha disposição. Sufoca. Só que é um hobby um tanto quanto peculiar: apesar de não conseguir me separar dele, eu não o tenho como paixão. Na verdade, eu o odeio a cada vez que esbarro com ele. Fico me lamentando intensamente a cada manifestação. O que é incrível é como ele gosta de me enganar no início só para depois provar que está ali, firme como sempre. Não dá uma folga. É desesperador muitas vezes. Mas deixa estar. Um dia eu me acostumo e faço dele filosofia de vida. Talvez fique mais fácil de aceitar. Meu nome é Marcelo. Sou um especialista em relacionamentos frustrados.
Simplicidade
- Por que você voltou tão amargo?
Ok, eu sei que essa é a primeira pergunta que vão me fazer. Honestamente, não vejo necessidade de explicar nada, portanto, poupem seu tempo com questões como essa. Acho que, no fundo, eu nunca deixei de ser assim, só tinha o cuidado de me disfarçar em sutilezas que não serviram para nada. A verdade é que eu estava precisando de um processo de escrita que me levasse à catarse, e o "Driving In The Rain" está aqui para isso. Sem pretensões, apenas uma válvula de escape. É bem melhor assim.
- Por que você voltou tão amargo?
Ok, eu sei que essa é a primeira pergunta que vão me fazer. Honestamente, não vejo necessidade de explicar nada, portanto, poupem seu tempo com questões como essa. Acho que, no fundo, eu nunca deixei de ser assim, só tinha o cuidado de me disfarçar em sutilezas que não serviram para nada. A verdade é que eu estava precisando de um processo de escrita que me levasse à catarse, e o "Driving In The Rain" está aqui para isso. Sem pretensões, apenas uma válvula de escape. É bem melhor assim.
Recomeço
Então é assim. Morre um, nasce outro. Para quem se acostumou à beleza das palavras do outro blog, já adianto que isso aqui vai ser bem diferente. É direto mesmo, sem piedade. Porque a vida não é bonitinha como dizem por aí e as pessoas não precisam de sentimentalismo barato despejado em letras.
Estou de volta à ativa.
Então é assim. Morre um, nasce outro. Para quem se acostumou à beleza das palavras do outro blog, já adianto que isso aqui vai ser bem diferente. É direto mesmo, sem piedade. Porque a vida não é bonitinha como dizem por aí e as pessoas não precisam de sentimentalismo barato despejado em letras.
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