1.12.10

041

Queria que a mesma beleza que você vê aqui, nestas soltas palavras, permeasse o mundo que às vezes me cerca. De repente assim a tal melancolia que descolore a realidade se despedisse lentamente, abrindo espaço para a volta daquelas cores de um dia que, perdido na lembrança, foi feliz. Porém, naquilo que você enxerga imagens, eu só sinto sons, e ainda não acostumei meus olhos tão bem à paisagem quanto os meus ouvidos a essa melodia triste que vem da solidão. Talvez eu precise de uma nova música. Talvez o filme que passa aqui já não tenha mais graça. Talvez meus sentidos não saibam tão bem o que é melhor para mim. Talvez eu sinta o que você não pode falar.

Talvez por isso eu ainda possa aprender.

12.6.10

O que não existe também nunca existiu

São apenas pensamentos que aparecem por aqui. Sonhos que vão e voltam. Desejos que insistem no querer. Mas eu, que sou antítese do que é sentir, apenas me afasto para apreciar de longe o que é se iludir.

E aplaudo, sozinho, quando caio do picadeiro, palhaço que sou por acreditar no que vem de dentro de mim.

9.4.10

Antítese de uma relação

Quando a vontade de escrever esbarra na falta de habilidade com as palavras.

Quando a necessidade de botar o que se sente para fora trava-se numa lágrima contida.

Quando a saudade começa a se transformar em um se acostumar.

Quando o querer passa a ser distante.

Quando o gostar ameça se perder.

Quando parece não mais importar.

É aí que tenho mais vontade de dizer para você ficar aqui.

(Porque, no fundo, sei que esse não é o roteiro que quero seguir.)

22.3.10

Sobre os sons

Abrir a boca e não sair uma palavra não é mais um gesto a se aprender. Já faz parte do meu querer silencioso, do meu sofrer mudo. Ele já está em mim como um pouco da angústia que tenho quando penso em dizer aquilo que aprendi depois de você. Mas seria em vão. Se os seus ouvidos não conseguem mais intuir, só me resta viver com o indizível que se pode sentir guardado dentro de mim.

2.3.10

Desrotina

Desde que comecei a escrever, percebi logo que não havia muito mistério em quando produzir: basta um dia frio ou um coração partido para que as palavras brotem. Por isso, nunca tive dúvidas quanto a estar na cidade errada. Felizmente, as desilusões nunca me faltaram – os textos não me deixam mentir.

Mas hoje fez frio no Rio de Janeiro. E o coração está em paz. Então as palavras são poucas.

E eu até que prefiro assim.