22.1.08

Com tesouras

Corre daí, não é seguro. Você sabe que não deve se arriscar assim. Voltar não era preciso. Você sempre seguiu adiante, sempre soube não olhar para trás. Não precisa tentar de novo. Não foi você mesmo que disse que tudo que chegava ao fim não tinha como recomeçar? Como acreditar em algo que nem você é capaz de colocar em prática? É melhor fugir. Esquece tudo, abandona isso que bate aí dentro e caminha além. Lembra como seus passos eram firmes quando você parecia conhecer a direção? Não desvia do trajeto agora. De nada vale voltar, acredite. Seria ficar sem rumo mais uma vez. E demorou para que você achasse um. Ou será que já esqueceu a sensação de dirigir na chuva, com pouca visibilidade e quase nenhum contato? Não, você não quer isso de novo. Corre daí, não é seguro. Você sabe que não deve se arriscar assim. Não tem razão para se envolver nisso agora. A gente não costuma repetir os erros. É para isso que dizemos ter superado. Mesmo que saibamos que não é a verdade. Enganar-se é preciso. Não foi você mesmo que disse que a mentira é o fim de toda verdade? É melhor mentir. E sonhar que a terra áspera é céu de brigadeiro. É quando fica fácil caminhar, com a cabeça nas nuvens, trocando os pés pelas mãos. Porque de nada vale ficar aí, sem jeito, morrendo de medo de tentar. O que você quer nunca é o que você tem, e menos ainda o que você deixou de ter. É sempre o que falta. E sempre vai faltar. Por isso não é prudente continuar voltando. Não é bom recomeçar. Vai acabar descobrindo que não dá para seguir em frente. De novo. Então é melhor fugir. E esquecer essa história de que não há o seu lugar. Corre daí, não é seguro. Você já sabe onde isso vai dar.